Sala de Cinema

Randall desde cedo mostrou-se esforçado e persistente. Levava os estudos tão a sério que mesmo quando criança teve crises de ansiedade devido ao seu altíssimo nível de exigência e comprometimento. Em busca de ser o menino correto e íntegro, traço comum da personalidade 1, teve sempre um anseio grande realizar tudo de maneira muito bem-feita e não depender de ninguém para fazer a própria vida acontecer.  Muito vinculado ao trabalho, rígido e exigente, Randall colapsa quando percebe que não está conseguindo tocar sua vida com perfeição, quando deixa a desejar no trabalho, quando percebe que não está conseguindo se dedicar ao seu pai biológico, ou mesmo cumprir sua palavra com relação aos compromissos com sua família. O sentimento de que seus melhores esforços não estão resolvendo a situação é tão frustrante para o tipo 1 que o leva ao estresse e a autocrítica.

A ferida da traição fica explícita na personalidade quando descobre que sua mãe escondeu que conhecia seu pai biológico desde que ele nasceu, Randall fez a lista de motivos para mostrar à mãe sua indignação pela sensação de traição que ela lhe causou. Durante a história Randall se reinventa com posturas mais flexíveis, abrindo mão de seu trabalho, se permitindo descansar e tirar férias e realmente encontrar o que gostaria de fazer, torna-se político, busca contribuir com a sociedade encontrando soluções e passa a atuar de maneira mais serena diante daquilo que poderia antes julgar errado, como a sexualidade da filha Tess ou mesmo aceitando o namoro da filha Deja.

Desde a infância Kevin direciona todos os seus esforços para angariar uma posição de destaque, primeiro no esporte e depois como ator, anseio comum à personalidade tipo 3, buscar adquirir valor pessoal através de seus feitos. Em sua história fica claro o quanto ele se sentiu não importante, especialmente para o pai, e o quanto este sentimento gerou uma postura de competição com o irmão Randall. Sua ferida infantil o fez reprimir suas emoções que acabam por gerar uma falta de conexão consigo mesmo. Como todo tipo 3, que busca reconhecimento, Kevin acaba projetando uma imagem de sucesso que o leva a construir uma carreira admirável, em contrapartida faz com que tenha um traço de desconexão emocional com as pessoas à sua volta, estando mais interessado em si mesmo e suas vontades do que vinculado aos sentimentos de sua família.

Sua história ganha cor quando percebe que sua carreira não respeitava sua verdadeira identidade, e que os aplausos que sempre recebia não preenchiam um vazio interior. Este despertar leva-o gradativamente a perceber que não está sendo ele mesmo, esse caminho atinge o ápice quando é internado para se tratar. Aos poucos, com ajuda terapêutica começa a desvendar quem ele realmente é, e sem a projeção de imagem vemos um menino que está aprendendo a se curar e reencontrando uma nova direção para sua história, olhando com carinho para seu pai, a quem tentou provar seu valor uma vida inteira. Kevin se reinventa e se torna mais sincero consigo mesmo, respeitando mais seus próprios valores pessoais e o sentimento das pessoas à sua volta.

Menina Kate passa uma vida se comparando com a mãe e se sentindo inferior a ela, traço principal da personalidade tipo 4. A idealização de vida fica explícita em dois aspectos, seu corpo e seu sonho de ser cantora, e quando olha para a mãe que é cantora e tem um corpo padrão de beleza, sua autoestima se deteriora, ela se crítica e se desvaloriza excessivamente, a ponto de não acreditar ser capaz de correr atrás do que realmente gosta e acaba ficando à sombra de seu irmão Kevin. Com relação a sua carreira como cantora, sempre que estava prestes a dar um próximo passo em direção a este sonho, deixava seus sentimentos de tristeza, inferioridade e incapacidade tomarem conta e acabava não dando os próximos passos. Por fim ao encontrar uma pessoa que a amava de todo coração, com doação e carinho, resolveu terminar a relação. Tanto na carreira quanto no amor vemos traços de autossabotagem da própria felicidade, comuns ao perfil 4.

O sentimento de abandono que desenvolveu com relação a própria mãe faz com que ela constantemente incrimine a mãe por suas próprias mazelas. Quando Kate começa a resolver estas questões com a mãe, expressando o que sentia em sua infância, acaba por perceber na realidade as coisas estão como estão por responsabilidade própria, e então sua postura se transforma e de maneira mais equânime começa a unir sua sensibilidade e criatividade com uma atitude mais proativa, dessa forma começa a se experimentar mais como cantar e a lutar contra o que for preciso para realizar o sonho de se casar e de ser mãe.

Rebecca mostra sua vontade de viver uma vida ideal em diversas situações como, por exemplo, quando diz que não quer ter filhos, porque ama muito a vida que está levando, ou ainda na sua vontade de viver a vida como cantora. No dia do aniversário de Jack, dia em que as crianças nascem, Becca tem uma conversa com seus filhos ainda na barriga onde ela fala do quanto eles irão gostar de seu pai e do quanto ele é incrível, e ao falar dela mesma demonstra sua preocupação de que não será uma boa mãe, listando vários de seus defeitos e se criticando, antes mesmo das crianças nascerem, de que ela provavelmente não conseguirá entregar a eles uma vida ideal. Sua autocrítica também se apresenta sempre que percebe que pode ter falhado com um de seus filhos.

Questionadora e desconfiada, Beth está sempre atenta a tudo que acontece à sua volta. Tem em seu marido Randall seu porto seguro e desenvolve com ele uma relação de muita transparência e companheirismo. Sempre que se sente insegura de algo, conversa com seu companheiro para decidirem juntos. Muito leal à sua família, busca fazer de tudo por suas filhas e marido, e até quando sua mãe sofre um acidente, Beth larga tudo para ir cuidar dela. Sempre preocupada com a saúde mental seu marido, o traço de zelo e cuidado, naturais do perfil se intensificam. Sua postura é rígida, o que pode levar a acreditar ser 6 sexual, mas Beth tenta resolver as coisas muito mais na conversa antes de partir para uma postura mais agressiva, o que nos leva ao instinto de preservação.

Otimista e bem-humorado são os traços mais fortes da personalidade do Jack. Sempre com uma solução para tornar o problema uma diversão, ou mesmo fugir da dor com uma solução simples, para não ter que encará-la de frente. Já no parto dos trigêmeos ele foge da conversa com o Dr. K que insiste em falar dos riscos da situação. Um filme antigo, um chapéu e gravetos para tornar o trágico Dia de Ação de Graças pura diversão. Estar satisfeito com a situação, colocando chantilly para minimizar os problemas foi sempre sua postura. Para Jack não tinha tempo ruim, sobrava proatividade e entusiasmo.

Puro entusiasmo e ideias mirabolantes para tornar as situações mais prazerosas. Toby ri de seus colegas que tentam emagrecer e faz piada e até quando está internado com problemas cardíacos. Divertido e extravagante, usa da argumentação e carisma para conquistar Kate. Mesmo ela insistindo que não queria se relacionar com ele. Toby torna leve suas conversas, mesmo as mais delicadas. Quando seu filho nasce cego e ele percebe que o pequeno não terá a liberdade ou poderá apreciar a vida da maneira como ele gostaria, Toby passa por um processo de fuga e alienação, comuns ao perfil quando precisa lidar com a dor.

William tem um traço pacífico e anestesiado, como se não sentisse ou não percebesse as situações do tamanho que elas são, por exemplo, a maneira com que lida com seu câncer, de forma passiva e conformada. William se envolve na rotina e empurra a vida com a barriga, passou boa parte da vida vivendo no mesmo apartamento, alugado, sem perspectiva e sem muita ambição. Se conforma com sua história e não se coloca em ação para mudá-la. Empático e calmo, sempre se comunica de maneira paciente e ponderada, a fim de não gerar conflitos ou incomodar a família que o acolheu no fim de sua vida.